Há alguns anos, procurando uma forma de alavancar minha situação financeira, decidi que investiria em consorcio de imóveis. Entre tropeços e acertos eu perdi, mas também ganhei. Atualmente, mais experiente, já me sinto capaz de identificar boas oportunidades e identificar riscos, e por isso resolvi dividir essa experiência com os leitores do "finanças para mulheres".
Descrevendo o negócio rapidamente, funciona assim: você compra uma cota de consórcio, paga as mensalidades, e quando é contemplado você vende a cota com ágio (ou seja, vende mais caro do que pagou por ela). O comprador aceita pagar o ágio por 2 motivos:
1) porque geralmente sai mais barato do que um financiamento bancário
2) porque ele não tem o "tempo" a seu favor, ou seja, não pode ficar esperando por tempo indeterminado até ser contemplado.
Quando eu comecei, tinha a ilusão de que tudo seria fácil. A contemplação aconteceria rapidamente, o ágio seria enorme. Aí veio a primeira lição.
Lição #1: O consórcio é um investimento que te compromete a longo prazo. Não basta ter o dinheiro para comprar a cota, você precisará pagar as prestações em dia até a contemplação. E isso pode demorar BASTANTE a acontecer.
Na época eu adquiri 3 cotas de valores baixos, ao invés de 1 cota com valor alto. Essa estratégia até que foi acertada (concorrendo com 3 números eu tinha mais chance do que com apenas 1 número). Então onde eu errei? Como eu não tinha experiência, no momento da contemplação eu não sabia direito o que fazer, como calcular possibilidades de ágio, etc. Resultado: em uma das cotas, deduzi o valor do lance de quitação do valor do crédito. Funciona assim: você comprou uma cota de 50mil, e deu um lance de 15mil, deduzido do crédito. Você não precisa desembolsar um centavo sequer, mas seu crédito é reduzido para 35mil (50.000-15.000=35.000). Só que, como eu já tinha pago várias parcelas, o comprador teria que me pagar um valor alto (exemplo: eu ia querer vender por 20mil. 35.000-20.000=15.000). Então, na prática o comprador teria apenas 15mil de crédito líquido. Pra resumir a história: esta cota foi meu pior resultado com consórcios. Tomei um prejuízo considerável.
Lição #2: Os cálculos que envolvem o investimento em consórcio não são simples. Se você é iniciante ou não se sente à vontade com números, vai precisar de um "mentor".
Atualmente, mesmo já estando bem familiarizada com os cálculos, não abro mão de consultar o meu "mentor", que também é o meu corretor de consorcios. Além dele ter me ensinado durante horas a fio os complexos cálculos, ele encontra os compradores para minhas cotas contempladas, providencia a documentação, e me apresenta boas oportunidades de negócio.
Lição #3: Negócio bom é aquele em que todos ganham. Se o seu corretor te ajuda a ganhar dinheiro, é justo pagar comissão a ele.
Apenas quando contemplei minha terceira cota, aliás, foi que conheci este corretor. Foi a primeira vez em que eu realmente tive lucro. Poderia até ter lucrado mais, caso tivesse mais paciência para encontrar outros compradores. Não me arrependo, pois fechei o negócio com amigos, mas também serviu como aprendizado.
Lição #4: A pressa é inimiga do lucro. Se você quiser vender sua cota muito rapidamente, provavelmente terá que baixar o preço. Porém, uma vez feito o negócio, não se arrependa.
Após vender esta cota, comprei outras. 4 meses depois uma delas foi contemplada e vendida rapidamente. O lucro obtido foi de 25% , e usei o dinheiro para comprar outra cota.
Nesta época já havia decidido o seguinte: não aumentaria a quantidade de cotas que eu possuía, para não comprometer demais meu orçamento. Alem disso, partir do momento em que houvessem contemplações, passaria a utilizar apenas o dinheiro recebido para reinvestir e pagar as prestações. Foi uma decisão acertada, pois passado 1 ano não tinha tido mais nenhuma contemplação e ainda perdi o emprego.
Lição #5: O valor que você tem disponível para comprar uma cota deve mantê-la por pelo menos 1 ano, mesmo que você tenha um rendimento mensal que permita mantê-la sem grande sacrifício. Nunca se sabe como será o dia de amanhã.
Eu tenho por regra que minha reserva financeira destinada aos consórcios deve manter a cota por 2 anos. Este prazo pode ser menor se você tiver várias cotas, já que a chance de contemplação é maior. Por experiência própria, mesmo tendo 4 cotas fiquei 1 ano sem ser contemplada. Portanto, mantenha uma reserva para consórcios suficiente para 1 ano.
Lição #6: Se, por uma infelicidade, você precisar atrasar parcelas do consórcio, verifique com a administradora a possibilidade de diluir as parcelas em atraso no saldo restante. É uma boa forma de "colocar em dia" sem tirar dinheiro do bolso, e voltar a concorrer nos sorteios e lances. Nunca se esqueça: consórcio é um compromisso mensal que não pode atrasar um dia sequer! atrasou, não pode ser contemplado. Acaba virando um "mico".
Depois de várias cotas adquiridas, começaram a surgir outras oportunidades, como as cotas com deságio. O funcionamento é simples: alguém que não tem mais dinheiro para pagar as prestações vende a cota, porém o valor de mercado dela é inferior ao que ele pagou. Você compra com deságio, e continua o negócio normalmente, pagando até contemplar. No momento da venda, a cota vale mais do que você gastou efetivamente, aumentando suas possibilidades de lucro. Porém, nem todas as cotas com deságio são bons negócios.
Lição #7: Não pense que um corretor que não te conhece vai te oferecer logo o filé mignon. É claro que ele vai oferecer pros clientes tradicionais dele, que compram cotas com regularidade e não reclamam da comissão.
Atualmente, consegui colocar em prática meu plano original, ou seja, tenho uma conta separada apenas para girar o dinheiro do investimento em consórcios. As prestações saem dali, e o lucro entra ali também. Além disso, mantenho uma planilha detalhada do que eu gasto e do que eu recebo, quanto minhas cotas estão valendo, etc.
Lição #8: Organização é importante. O ideal é realmente manter uma conta separada para o investimento, e não confundir a reserva destinada aos consórcios com a sua reserva financeira para emergências.
Lição #9: Se você ainda não tem uma reserva financeira para emergências, NÃO invista em consórcios. Construa essa reserva com urgência! Ela deve ser suficiente para bancar todas as suas despesas por NO MÍNIMO 6 meses.
Por último, mas não menos importante, não se esqueça de averiguar se a administradora na qual você pretende investir é idônea. Pesquise no Banco Central, no Procon, e até mesmo na internet. Consumidores costumam usar sites para descrever problemas que tiveram com empresas, portanto uma pesquisa básica no Google ou no seu buscador de preferência são fundamentais!
Descrevendo o negócio rapidamente, funciona assim: você compra uma cota de consórcio, paga as mensalidades, e quando é contemplado você vende a cota com ágio (ou seja, vende mais caro do que pagou por ela). O comprador aceita pagar o ágio por 2 motivos:
1) porque geralmente sai mais barato do que um financiamento bancário
2) porque ele não tem o "tempo" a seu favor, ou seja, não pode ficar esperando por tempo indeterminado até ser contemplado.
Quando eu comecei, tinha a ilusão de que tudo seria fácil. A contemplação aconteceria rapidamente, o ágio seria enorme. Aí veio a primeira lição.
Lição #1: O consórcio é um investimento que te compromete a longo prazo. Não basta ter o dinheiro para comprar a cota, você precisará pagar as prestações em dia até a contemplação. E isso pode demorar BASTANTE a acontecer.
Na época eu adquiri 3 cotas de valores baixos, ao invés de 1 cota com valor alto. Essa estratégia até que foi acertada (concorrendo com 3 números eu tinha mais chance do que com apenas 1 número). Então onde eu errei? Como eu não tinha experiência, no momento da contemplação eu não sabia direito o que fazer, como calcular possibilidades de ágio, etc. Resultado: em uma das cotas, deduzi o valor do lance de quitação do valor do crédito. Funciona assim: você comprou uma cota de 50mil, e deu um lance de 15mil, deduzido do crédito. Você não precisa desembolsar um centavo sequer, mas seu crédito é reduzido para 35mil (50.000-15.000=35.000). Só que, como eu já tinha pago várias parcelas, o comprador teria que me pagar um valor alto (exemplo: eu ia querer vender por 20mil. 35.000-20.000=15.000). Então, na prática o comprador teria apenas 15mil de crédito líquido. Pra resumir a história: esta cota foi meu pior resultado com consórcios. Tomei um prejuízo considerável.
Lição #2: Os cálculos que envolvem o investimento em consórcio não são simples. Se você é iniciante ou não se sente à vontade com números, vai precisar de um "mentor".
Atualmente, mesmo já estando bem familiarizada com os cálculos, não abro mão de consultar o meu "mentor", que também é o meu corretor de consorcios. Além dele ter me ensinado durante horas a fio os complexos cálculos, ele encontra os compradores para minhas cotas contempladas, providencia a documentação, e me apresenta boas oportunidades de negócio.
Lição #3: Negócio bom é aquele em que todos ganham. Se o seu corretor te ajuda a ganhar dinheiro, é justo pagar comissão a ele.
Apenas quando contemplei minha terceira cota, aliás, foi que conheci este corretor. Foi a primeira vez em que eu realmente tive lucro. Poderia até ter lucrado mais, caso tivesse mais paciência para encontrar outros compradores. Não me arrependo, pois fechei o negócio com amigos, mas também serviu como aprendizado.
Lição #4: A pressa é inimiga do lucro. Se você quiser vender sua cota muito rapidamente, provavelmente terá que baixar o preço. Porém, uma vez feito o negócio, não se arrependa.
Após vender esta cota, comprei outras. 4 meses depois uma delas foi contemplada e vendida rapidamente. O lucro obtido foi de 25% , e usei o dinheiro para comprar outra cota.
Nesta época já havia decidido o seguinte: não aumentaria a quantidade de cotas que eu possuía, para não comprometer demais meu orçamento. Alem disso, partir do momento em que houvessem contemplações, passaria a utilizar apenas o dinheiro recebido para reinvestir e pagar as prestações. Foi uma decisão acertada, pois passado 1 ano não tinha tido mais nenhuma contemplação e ainda perdi o emprego.
Lição #5: O valor que você tem disponível para comprar uma cota deve mantê-la por pelo menos 1 ano, mesmo que você tenha um rendimento mensal que permita mantê-la sem grande sacrifício. Nunca se sabe como será o dia de amanhã.
Eu tenho por regra que minha reserva financeira destinada aos consórcios deve manter a cota por 2 anos. Este prazo pode ser menor se você tiver várias cotas, já que a chance de contemplação é maior. Por experiência própria, mesmo tendo 4 cotas fiquei 1 ano sem ser contemplada. Portanto, mantenha uma reserva para consórcios suficiente para 1 ano.
Lição #6: Se, por uma infelicidade, você precisar atrasar parcelas do consórcio, verifique com a administradora a possibilidade de diluir as parcelas em atraso no saldo restante. É uma boa forma de "colocar em dia" sem tirar dinheiro do bolso, e voltar a concorrer nos sorteios e lances. Nunca se esqueça: consórcio é um compromisso mensal que não pode atrasar um dia sequer! atrasou, não pode ser contemplado. Acaba virando um "mico".
Depois de várias cotas adquiridas, começaram a surgir outras oportunidades, como as cotas com deságio. O funcionamento é simples: alguém que não tem mais dinheiro para pagar as prestações vende a cota, porém o valor de mercado dela é inferior ao que ele pagou. Você compra com deságio, e continua o negócio normalmente, pagando até contemplar. No momento da venda, a cota vale mais do que você gastou efetivamente, aumentando suas possibilidades de lucro. Porém, nem todas as cotas com deságio são bons negócios.
Lição #7: Não pense que um corretor que não te conhece vai te oferecer logo o filé mignon. É claro que ele vai oferecer pros clientes tradicionais dele, que compram cotas com regularidade e não reclamam da comissão.
Atualmente, consegui colocar em prática meu plano original, ou seja, tenho uma conta separada apenas para girar o dinheiro do investimento em consórcios. As prestações saem dali, e o lucro entra ali também. Além disso, mantenho uma planilha detalhada do que eu gasto e do que eu recebo, quanto minhas cotas estão valendo, etc.
Lição #8: Organização é importante. O ideal é realmente manter uma conta separada para o investimento, e não confundir a reserva destinada aos consórcios com a sua reserva financeira para emergências.
Lição #9: Se você ainda não tem uma reserva financeira para emergências, NÃO invista em consórcios. Construa essa reserva com urgência! Ela deve ser suficiente para bancar todas as suas despesas por NO MÍNIMO 6 meses.
Por último, mas não menos importante, não se esqueça de averiguar se a administradora na qual você pretende investir é idônea. Pesquise no Banco Central, no Procon, e até mesmo na internet. Consumidores costumam usar sites para descrever problemas que tiveram com empresas, portanto uma pesquisa básica no Google ou no seu buscador de preferência são fundamentais!

Legal Fabi. Achei muito didatico para inciantes. Acho que as mulheres nao se arriscam tanto em consorcios e pode ser uma otima opcao de diversificacao. Gianna.
ResponderExcluirOi Fabi!Adorei o que lí!Vou aprendendo para o dia que eu puder investir virei falar contigo!Esse conselho sobre reserva financeira para emergências é perfeito!Só que eu sou funcionária pública aposentada, esperando dinheiros que virão de processos ganhos.Mas as reservas se foram ...A crse... Marido e filha desempregados...Graças a Deus com a saúde tudo bem ,né? Mas o universo conspira a meu favor e tudo vai dar certo .Bjs.email-marta.falcao@hotmail.com
ResponderExcluirMarta, o mais importante é você ter essa consciência do que realmente importa na vida! Dinheiro não é nada sem saúde!
ResponderExcluirTo publicando uma série nova de posts sobre redução de gastos, acho que vai ser útil!
Bjs, Fabi
Gi, vc também é fã dos consórcios né? Realmente quase não tem mulheres investindo nessa área...o mercado é praticamente dominado pelos homens!
ResponderExcluirbjs, Fabi